O coração ardeu mais forte, os olhos se encheram de lágrimas e, de repente, parecia que tudo ao seu redor confirmava que você deveria ir àquele povo ou país para pregar o evangelho. Você recebeu um chamado missionário. À medida que você dá os primeiros passos em direção ao chamado de ir aos povos não alcançados, as primeiras dúvidas começam a surgir. Para onde eu vou? O que é preciso para ir? Como, quando e por que eu devo ir?
Boa parte das respostas para essas perguntas estão na Bíblia, e hoje vamos falar do último mandamento que Jesus deixou antes de subir aos céus - “Ide!”
De todos os textos bíblicos que chamamos de “A Grande Comissão,” talvez o versículo que está em João 20:21 seja o mais diferente e o mais profundo.
Na ocasião, Jesus havia acabado de ressuscitar. Os discípulos estavam escondidos, trancados em uma casa por medo dos outros judeus, quando Jesus apareceu no meio deles, mostrando suas feridas da crucificação e garantindo a eles que a morte fora vencida. Então Jesus disse aos seus discípulos: “Paz seja com vocês! Assim como o Pai me enviou, eu os envio.”
Essa é a Grande Comissão do evangelho de João, onde Jesus envia seus discípulos para o mundo. Só que ele não dá muitos detalhes. Nesse texto não temos nenhuma instrução de como isso deve ser feito, nenhum guia, nem um passo a passo. O único parâmetro que temos é que devemos ser enviados da mesma forma que ele mesmo foi enviado pelo Pai.
Pare um momento. Leia novamente o versículo 21 e entenda a profundidade do que Jesus está dizendo.
Ele está dizendo que nós, a sua Igreja, somos enviados para o mundo da mesma maneira, com as mesmas características e com a mesma missão que ele tinha quando foi enviado para nós.
Como Jesus foi enviado pelo Pai?
A resposta para essa pergunta também é a resposta para como nós devemos ser enviados como missionários para o mundo! Isso nos ajuda a definir aquilo que nós devemos fazer, como fazer, por que fazer e aquilo que nós não devemos fazer. A nossa missão precisa ser definida por Cristo. Precisamos olhar para ele para saber como obedecê-lo, e precisamos olhar para o mundo, para a vida e para a nossa missão com um olhar “cristocêntrico” - ou seja, Cristo no centro.
O princípio da encarnação
Veja o que Paulo diz em Filipenses 2 nos versículos 7 e 8: “mas esvaziou-se a si mesmo, vindo a ser servo, tornando-se semelhante aos homens. E, sendo encontrado em forma humana, humilhou-se a si mesmo e foi obediente até à morte, e morte de cruz!”
Quando Jesus foi enviado pelo Pai, precisou se esvaziar e se humilhar. Ele tomou essa decisão para obedecer ao Pai, e é essa a decisão que todo missionário precisa tomar para obedecer ao Seu chamado. Seja para uma viagem de curto prazo, ou de longo prazo, você precisa renunciar à sua própria cultura.
O missionário também precisa estar disposto a aceitar uma cultura completamente diferente, a entrar em um povo com um estilo de vida totalmente estranho, e lá aprender tudo do zero. Quando se entra em uma cultura nova, é preciso entrar da mesma maneira que Jesus entrou no mundo, como uma criança. Pode ser necessário um bom tempo aprendendo, assimilando e “encarnando” a cultura, os relacionamentos, a forma de pensar, de se vestir, de se comunicar.
Jesus fez isso e o apóstolo Paulo fez isso, como vemos em 1 Coríntios 9:22: “Para com os fracos tornei-me fraco, para ganhar os fracos. Tornei-me tudo para com todos, para de alguma forma salvar alguns.”
Esse é o princípio de se esvaziar, abrindo mão de sua cultura e encarnando em uma nova cultura. Desse modo, a mensagem do evangelho que levamos se torna mais aceitável, clara e coerente.
O princípio da missão sacerdotal
Antes de falar de Jesus, vamos relembrar o papel do sacerdote no antigo testamento, que era interceder pelo povo, levando a Deus os seus sacrifícios e as suas petições. Jesus fez isso também, intercedendo a Deus pelas pessoas e clamando por elas.
Jesus encarnou e veio ao mundo, mas ele não começou o seu ministério imediatamente. Antes de começar a pregar o Reino de Deus, foi batizado por João Batista e, logo em seguida, dirigiu-se ao deserto para jejuar e orar. Foi assim que começou o seu ministério, e durante todo ele vemos Jesus investindo tempo em oração.
Ao ser enviado para um povo, o missionário também tem essa “função sacerdotal” ao interceder pelas pessoas, orando e clamando pela salvação daqueles que estão sofrendo longe de Cristo. Não se pode simplesmente chegar e pregar. Antes de falar de Jesus para alguém, é preciso falar desse alguém para Jesus. Por isso, ore pelas pessoas a quem você quer evangelizar, conheça as suas necessidades e apresente-as diante de Deus.
O princípio da submissão ao Espírito Santo
Jesus não veio com uma programação pronta do que deveria fazer aqui na terra. Claro que ele sabia o que veio fazer, mas ele sempre submetia a sua “agenda” ao Espírito Santo.
O tempo todo vemos Jesus submisso ao Espírito Santo. Ele não deixava as demandas do dia a dia tomarem controle da sua missão. Muitas vezes ele até sabia o que se passava na cabeça das pessoas sem elas abrirem a boca. Embora ele fosse o Deus do universo, o Rei dos reis, ele estava ali, encarnado, totalmente dependente e submisso ao Espírito Santo.
Vemos os apóstolos seguindo esse princípio da submissão ao Espírito Santo, como Pedro ao confrontar o pecado de Ananias e Safira (Atos 5), e a igreja de Antioquia, que jejuou e orou e recebeu a revelação de que deveriam enviar Paulo e Barnabé (Atos 13).
Da mesma maneira, é importante que o missionário ou plantador de igrejas se submeta à vontade do Espírito Santo e não da sua própria carne, razão ou intelecto. Por isso preste atenção ao que o Espírito Santo está te direcionando para fazer e confie que Ele vai agir na vida das pessoas.
O princípio da missão profética
Enquanto a função do sacerdote era falar do povo para Deus, a função do profeta no antigo testamento era falar de Deus para o povo. Jesus, na sua missão profética, pregou o evangelho e chamou as pessoas ao arrependimento, e é essa mesma mensagem que devemos pregar.
Para isso é necessário abrir a boca e falar! Não é necessário ter um dom especial para isso, nem fazer curso de oratória, nem ser um “pregador” profissional. Nós profetizamos quando testemunhamos, e testemunhar é dizer aquilo que Deus fez na nossa vida.
Profetizar também significa falar da vida de Jesus, quem ele é e o que ele fez. Mesmo que isso atraia perseguição ou que seja constrangedor para algumas pessoas, essa verdade precisa ser proclamada. Jesus fez isso, ele falou quem ele era e o que veio fazer. Mas lembre-se de que ele primeiro encarnou, orou, jejuou, se submeteu ao Espírito Santo, e na plenitude dos tempos começou a pregar o evangelho. Qual é a plenitude do seu tempo?
A missão profética é falar e também é viver o evangelho. Pois se falamos mas não vivemos, as nossas palavras se tornam vazias. Jesus pregava, mas também amava as pessoas. Demonstrava isso com o seu olhar, com suas ações, com a sua atenção para com as pessoas. Ele não apontava diretamente o pecado das pessoas, mas demonstrava amor, e através desse amor elas eram transformadas. Você consegue se imaginar agindo dessa maneira ao ministrar na vida das pessoas?
O princípio do discipulado
Jesus pregou a sua mensagem, e aqueles que ouviram e responderam a ela foram trazidos para perto dele. Jesus andou com eles, investiu tempo com eles e os tornou seus discípulos. Mais tarde, como vemos em Mateus 28, Jesus envia seus discípulos para fazerem novos discípulos de todos os povos, ensinando-os a obedecer a tudo que lhes foi ensinado.
Muitos confundem esse mandamento e acabam ensinando o que Jesus ensinou, mas a missão aqui é ensinar as pessoas a obedecerem ao que Jesus ensinou. O verdadeiro discipulado consiste em andar junto e mostrar na prática o que é ser discípulo de Jesus, não apenas ensinar conceitos teológicos.
Se você pretende ser enviado como missionário ou plantador de igrejas a um povo não alcançado, precisa estar disposto a caminhar com pessoas, trazer elas para dentro da sua casa, comer com elas, mostrar para elas como você se relaciona com o próximo, como você enfrenta os problemas, como você reage diante das mais variadas situações da vida.
Discipulado requer tempo, paciência e dinheiro. Requer a sua vida, na verdade. Mas esse é o melhor legado que você poderá deixar em todo o seu ministério. O que seria de Paulo se Barnabé não tivesse caminhado com ele?
Você tem colocado esses princípios em prática?
Para ser enviado aos povos não alcançados, precisamos olhar para a vida de Jesus, que foi primeiro enviado a nós, os não alcançados. Esses princípios nos ajudam a olhar para Jesus e alinhar a nossa missão com a dele.
Quais desses princípios você já tem praticado?
Quais você precisa gastar tempo para colocar em prática?
A seara é grande e os trabalhadores são poucos. Se você está sendo chamado para essa colheita, não saia da sua cidade sem antes estar revestido do Espírito Santo!
Quer saber o que são povos não alcançados e o que você tem a ver com eles? Veja esse vídeo.
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